Por Que Data Lake Não É o Suficiente? O Papel do Lakehouse.
- florentinarias
- 28 de jun.
- 7 min de leitura
Atualizado: 8 de jul.

Em um mundo cada vez mais orientado por dados, compreender como as novas estruturas de gestão de dados funcionam é fundamental. Esse entendimento não só permite que as empresas façam escolhas técnicas mais adaptadas ao seu contexto, mas também gera oportunidades de economia, especialmente em ambientes baseados em nuvem, onde o uso eficiente dos recursos impacta diretamente os custos e o desempenho.
Mas diante de tantas novidades — acrônimos, arquiteturas híbridas, camadas de abstração e promessas de inovação — como entender o que realmente importa? O modo mais simples de enxergar o cenário é revisitar o percurso que nos trouxe até aqui. Ao observar a evolução das arquiteturas de dados — do Data Warehouse ao Data Lake, chegando ao Lakehouse — fica mais fácil compreender os desafios superados, os ganhos alcançados e as limitações de cada momento.
Neste artigo, vamos percorrer esses três grandes marcos, explicando de forma didática as abordagens, os benefícios e os pontos de atenção, sempre com exemplos concretos. Assim, você estará preparado para tomar decisões informadas com relação a sua plataforma de dados.
Data Warehouse: O Início da Inteligência Analítica Empresarial
No final dos anos 80 e início dos anos 90, as empresas começaram a enfrentar um novo desafio: a explosão de dados gerados por sistemas operacionais, ERPs e CRMs. Até então, os dados ficavam dispersos em silos departamentais, dificultando análises integradas, controle gerencial e tomada de decisão baseada em fatos. As áreas de negócio demandavam cada vez mais relatórios confiáveis, históricos de desempenho e indicadores consolidados, mas os sistemas transacionais não foram projetados para esse tipo de carga analítica.
Era preciso resolver algumas necessidades centrais:
Unificar informações de múltiplas fontes de maneira consistente e padronizada.
Garantir qualidade e integridade dos dados para análises estratégicas.
Disponibilizar históricos confiáveis para a comparação de resultados ao longo do tempo.
Oferecer performance adequada para consultas complexas sem impactar o desempenho dos sistemas operacionais.
O Data Warehouse surgiu como resposta para esse contexto, sendo o grande marco inicial da gestão moderna de dados para análise. Trata-se de uma arquitetura centralizada e altamente estruturada, desenvolvida para consolidar, organizar e padronizar dados de diferentes sistemas das empresas.
Um dos pontos cruciais desse modelo é o processo de ETL (Extração, Transformação e Carga): ao transferir os dados dos sistemas transacionais para o Data Warehouse, ocorre uma modificação significativa na organização desses dados — a chamada modelagem de dados. Durante essa transformação, os dados são reestruturados para ficarem otimizados para consultas analíticas em bancos de dados. É aqui que entram os famosos modelos em estrela (star schema) ou snowflake, que facilitam a navegação, análise multidimensional e a performance das consultas utilizadas em BI.
O resultado é um repositório confiável, voltado especialmente para geração de relatórios, BI e análises gerenciais.
Ganhos principais:
Qualidade e confiabilidade: Os dados chegam prontos para serem usados, com validação e padronização, o que garante credibilidade para relatórios e tomadas de decisão.
Governança forte: Regras claras de acesso, versionamento e segurança dos dados.
Performance: Consultas rápidas e eficientes para análises estruturadas e periódicas.
Limitações:
Rigidez: Alterar modelos ou incorporar novos tipos de dados pode ser um processo lento e oneroso.
Custo elevado: Exige grande investimento em infraestrutura, licenças e profissionais especializados.
Baixa flexibilidade: Dados não estruturados ou projetos experimentais geralmente ficam fora desse ambiente, dificultando a inovação e análises exploratórias.
Exemplo concreto:
Imagine uma grande rede varejista que precisa consolidar informações de vendas, estoque e resultados de todas as suas lojas físicas espalhadas pelo país. Para isso, ela adota um Data Warehouse baseado em Oracle. Todos os dados passam por processos rigorosos de ETL, sendo reorganizados em modelos em estrela para facilitar a criação de dashboards de desempenho gerencial e relatórios diários. Esse ambiente garante informações confiáveis para as equipes de planejamento e diretoria, mas apresenta desafios quando o negócio deseja testar novas fontes de dados ou explorar informações não convencionais.
No próximo passo, vamos ver como o surgimento do Data Lake expandiu as possibilidades e mudou a forma como lidamos com dados nas organizações.
Data Lake: A Democratização e Expansão dos Dados
Com o avanço da tecnologia, o volume e a diversidade de dados cresceram de forma exponencial. Dados transacionais, logs de sistemas, arquivos de texto, imagens, vídeos e até interações de redes sociais começaram a fazer parte do universo informacional das empresas. Nesse novo cenário, as limitações dos Data Warehouses ficaram mais evidentes: era caro, complexo e pouco flexível adaptar o ambiente para lidar com dados não estruturados ou novos tipos de análise.
Foi nesse contexto que surgiu o conceito de Data Lake — um repositório capaz de armazenar dados em seu formato bruto, sem exigir modelagem ou transformação prévias. A grande inovação do Data Lake foi a abordagem “schema-on-read”: em vez de definir um modelo fixo no momento da carga, os dados são organizados e interpretados conforme a necessidade de uso, no momento da análise. Isso possibilitou um salto de flexibilidade e escalabilidade, facilitando experimentações, projetos de ciência de dados e machine learning.
No Data Lake, as informações são armazenadas em arquivos brutos, frequentemente em formatos otimizados como Parquet, ORC ou Avro. Diferentemente de um Data Warehouse, onde os dados são organizados e relacionados em tabelas com estrutura fixa e integridade referencial, no Data Lake cada arquivo existe de forma independente, sem necessariamente manter relações explícitas entre si. Isso significa que os dados não seguem uma modelagem rígida — cada conjunto de arquivos pode conter diferentes estruturas, granularidades e lógicas de organização, o que oferece muita flexibilidade, mas também exige mais cuidado na hora de integrar, cruzar ou analisar informações de fontes distintas.
Ganhos principais:
Flexibilidade total: Qualquer tipo de dado pode ser armazenado – estruturado, semiestruturado ou não estruturado.
Escalabilidade e custo: O uso de armazenamento em nuvem tornou possível guardar volumes massivos de dados a custos mais acessíveis.
Inovação analítica: Cientistas de dados podem explorar, treinar modelos e criar soluções avançadas diretamente sobre o Data Lake, sem as amarras da modelagem prévia.
Limitações:
Governança e controle: Sem processos bem definidos, o Data Lake pode virar um “data swamp” (pântano de dados), onde é difícil encontrar, rastrear e confiar nas informações.
Qualidade dos dados: A ausência de curadoria estruturada aumenta o risco de dados duplicados, inconsistentes ou desatualizados.
Complexidade para o usuário de negócio: Consultar ou cruzar dados pode exigir habilidades técnicas avançadas, limitando o acesso para analistas que não são especialistas.
Exemplo concreto:
A mesma rede varejista implanta um Data Lake na nuvem para agregar, além dos dados transacionais, fluxos de navegação no site, avaliações de produtos, interações em chatbots e imagens de mercadorias. Equipes de ciência de dados utilizam ferramentas como Apache Spark e linguagens como Python para acessar esse repositório, desenvolver modelos de recomendação, segmentação de clientes, prever tendências, prever churn de clientes e personalizar ofertas. Porém, gestores sentem dificuldade para encontrar informações confiáveis para os relatórios do dia a dia, e a falta de padronização complica o uso em escala por toda a empresa. O Data Lake oferece liberdade e poder para análises inovadoras, mas exige governança rigorosa para não se tornar um repositório caótico e difícil de explorar.
No próximo passo, veremos como o surgimento do Lakehouse buscou unir o melhor dos dois mundos — a governança do Data Warehouse e a flexibilidade do Data Lake.
Lakehouse: O Melhor dos Dois Mundos
À medida que as organizações amadureciam no uso de dados, ficou claro que tanto o Data Warehouse quanto o Data Lake tinham pontos fortes — mas também limitações importantes. O Data Warehouse oferecia governança, segurança e performance para análises estruturadas; o Data Lake trazia flexibilidade, escalabilidade e suporte a dados de qualquer natureza. Mas, para muitos negócios, manter esses ambientes separados gerava custos, duplicidade de dados e dificultava a colaboração entre times de BI e ciência de dados.
É nesse contexto que surge o Lakehouse, uma arquitetura híbrida que une o melhor dos dois mundos. O Lakehouse combina a governança, a performance e as transações ACID típicas dos Data Warehouses, com a flexibilidade e o baixo custo do Data Lake. Sua principal inovação está no uso de formatos abertos de tabela (como Delta Lake, Apache Iceberg e Hudi), que permitem tanto a estruturação e versionamento dos dados quanto a atualização, exclusão e auditoria em escala massiva.
Um grande diferencial do Lakehouse é a implementação da arquitetura em camadas Bronze, Silver e Gold, especialmente quando combinada com formatos abertos de tabela. Nessa estrutura, os dados brutos são inicialmente armazenados na camada Bronze, passando por etapas de limpeza e enriquecimento na camada Silver, até chegarem à camada Gold, prontos para análises críticas, relatórios executivos ou aplicações avançadas. Esse modelo não só organiza o fluxo dos dados, mas também permite atender os diferentes perfis de usuários dentro da organização — desde gestores que precisam de informações consolidadas e confiáveis, até cientistas de dados que buscam flexibilidade e acesso ao detalhe máximo dos registros.
Principais ganhos:
Governança e confiabilidade: Dados centralizados, versionados e com controle de acesso refinado.
Flexibilidade para análise: Permite o uso de dados estruturados e não estruturados, atendendo a BI, analytics e ciência de dados.
Redução de custos e duplicidade: Um único ambiente, menos retrabalho e menor manutenção.
Inovação e democratização: Vários times acessam e colaboram sobre os mesmos dados, acelerando entregas e tornando a empresa mais ágil.
Limitações:
Complexidade de adoção: Implementar uma arquitetura Lakehouse pode exigir mudanças culturais, atualização de processos e integração com sistemas legados.
Curva de aprendizado: As ferramentas e conceitos ainda estão em evolução e podem exigir capacitação das equipes.
Maturidade das soluções: Nem todas as funcionalidades dos sistemas tradicionais já estão plenamente cobertas pelas soluções Lakehouse.
Exemplo concreto:
Uma empresa do setor de varejo decide migrar todos os seus dados para uma arquitetura Lakehouse utilizando Iceberg e S3 da AWS. O novo ambiente centraliza dados operacionais, históricos de vendas, cadastros de clientes e arquivos de mídia, mantendo governança e permitindo atualização em tempo real. Os times de BI, analytics e ciência de dados acessam e compartilham as mesma estrutura, podendo acessar diferentes níveis consolidação da mesma informação, garantindo qualidade, performance e flexibilidade para diferentes projetos — com a liberdade de inovar sem abrir mão da segurança e do controle.
Resumindo... por que Data Lake não é o suficiente
Apesar dos avanços proporcionados pelo Data Lake em termos de flexibilidade e escalabilidade, ele, por si só, não resolve todos os desafios de quem precisa transformar dados em valor para o negócio. A ausência de governança, controle de qualidade e integração entre diferentes tipos de usuários pode limitar o potencial analítico da empresa e até gerar riscos operacionais.
Além disso, o cenário atual exige arquiteturas capazes de atender a múltiplas demandas: eficiência operacional, inovação, conformidade regulatória, segurança e, cada vez mais, suporte à inteligência artificial e automação.
É nesse contexto que o Lakehouse se destaca: ao unir o melhor do Data Warehouse (governança, segurança, performance) com a inovação e a abertura do Data Lake, o Lakehouse entrega uma base moderna, escalável e conectada para dados. Combinando formatos abertos de tabela e a arquitetura Bronze, Silver e Gold, o Lakehouse permite que tanto gestores quanto cientistas de dados acessem informações confiáveis e atualizadas, acelerando a transformação digital de verdade.
Para organizações que desejam avançar na nova era dos dados, o caminho não é escolher entre flexibilidade e controle, mas sim construir uma jornada onde ambos caminham juntos. O Lakehouse é a peça-chave dessa transformação.